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Arquitetos: Malu de Miguel
- Área: 400 m²
- Ano: 2019
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Fabricantes: AutoDesk, Ikea, La Paloma cerámicas, Llinás, NIBE, Polytherm, Signify, Technal
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa em Boadilla del Monte encontra-se situada em um terreno localizado poucos quilômetros à oeste da cidade de Madri. O edifício se desenvolve praticamente em uma planta só, com exceção à uma pequena área na segunda planta que se articula com o restante dos espaços da casa através de uma sala com um pé direito pra lá de generoso. A implantação recuada do volume no lote, cede à rua parte do espaço do terreno, conformando um espaço aberto que serve tanto como vaga de estacionamento quanto como uma ampliação da calçada. Em um condomínio onde as casas encostam-se alinhadas de muro à muro, tal situação nos surpreende por sua generosidade para com o espaço público, resultando em benefícios para ao próprio projeto. De modo parecido, o programa da casa também parece bastante atípico para este contexto, e paradoxalmente, esta é a sua maior inovação. Concebida para acomodar a um núcleo familiar formado por três gerações de uma mesma família, a casa foi projetada como dois pavilhões independentes.
Além disso, a organização do layout da casa supera a tradicional segregação hierárquica do espaço em “suíte principal” e “quartos para as crianças”: seja qual for a família que vier habitar esta estrutura, os quartos serão escolhidos pelas pessoas e não por uma imposição do projeto. Entre um cômodo e outro buscamos construir relações entre luz e sombra e entre interior e exterior. A separação entre o espaço da casa e os pátios interiores desaparecem no intervalo de tempo entre março e outubro, quando não há necessidade de condicionar os espaços interiores e a brisa é sempre bem vinda. Paralelamente, a casa foi concebida como um amplo espaço contínuo, onde a circulação desaparece ao mesmo tempo que é possível circular por todos os cantos, correr e esconder-se, sem precisar de uma rota obrigatória ou previsível.
A paleta de materiais é bastante sóbria e seus dois principais elementos se combinam através de sua aspereza e vigor:
1. Concreto aparente executado com formas de OSB, cuja textura do composto de madeira o converte em um material de aparência quase vegetal, mais amigável e aconchegante;
2. Tijolo aparente rústico acabado com junta de massa grossa na mesma dimensão e cores do tijolo.
Esta trama grosseira de tijolo e argamassa, rememora e celebra alguns dos mais belos projetos de arquitetura construídos no país, quando a matéria, e não a química, era o principal recurso da construção civil.
Este acabamento de aparência tosca e delicada foi utilizado em todos os muros exteriores e nas divisórias interiores da casa. O piso de concreto também é o mesmo, bruto do lado de fora e polido no lado de dentro. Desta maneira, graças a sua aparência sóbria e um pouco rudimentar, os espaços da casa – quando aberta – parecem diluir-se enquanto as fronteiras entre o interior e exterior, desaparecem. Os mesmos tijolos que constroem as paredes também assumem saliências para marcar as aberturas, pingadeiras e mudanças de níveis entre as áreas molhadas. A radicalidade do amor incondicional ao material em seu estado mais puro nos levou incluso a utilizar o tijolo nos boxes do banheiro, apenas impermeabilizando-os com uma tinta transparente.